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Brasileirão chega aos 20 anos com pontos corridos; TV Globo era contrária
A alteração do Brasileirão, em 2002, era uma pauta muito forte na mente do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, mesmo com a contrariedade da Globo, detentora dos direitos de transmissão.
"Naquele momento, a Globo estava satisfeita com o formato antigo. Mas, ao longo do tempo, os pontos corridos se mostraram muito interessantes, principalmente pelo desenvolvimento do pay-per-view, que foi o produto que mais cresceu de lá para cá", cita Marcelo Campos Pinto, ex-executivo da emissora, por anos responsável pela negociação com os clubes dos contratos de direitos e transmissão e que hoje é um dos sócios da Sportsview.
Para os clubes, o pay-per-view chegou a bater pelo menos R$ 550 milhões de arrecadação por temporada. O produto foi lançado pela Globo em 1997, mas foi justamente no ano em que a fórmula do Brasileirão mudou que, na visão de Campos Pinto, o produto se consolidou.
"Em 1997, quando se negociou isso, não se sabia o potencial de assinantes. Sempre se negociava um valor mínimo garantido. A partir de 2003, esse valor mínimo veio sendo superado", explicou.
Na CBF, o trabalho foi de manutenção da fórmula ao longo dos anos, ainda que não tenha ocorrido até hoje uma solução definitiva para os problemas do calendário nacional. Na última década, já sem Teixeira no poder, o investimento na Copa do Brasil ajudou a reforçar a necessidade de cultivo da fórmula dos pontos corridos, sem que se voltasse a ter uma réplica do formato mata-mata.
Foco na média de público
"Vai começar o campeonato mais importante das Américas", anuncia o diretor de competições da CBF, sobre a Série A do Brasileirão.
Mas o que o faz dizer isso?
"Pela capacidade de geração de receita, visibilidade e relevância do nosso futebol. Se olhar o valor da competição como um todo, é uma das maiores do mundo. A capacidade de geração de receita. O principal indicador de performance de uma competição é justamente o público, atingir quem vai ao estádio. Fazer com que o torcedor se desloque, saia de casa, não há indicador melhor", argumenta Manoel Flores.
Sobre o dinheiro, levantamento feito pela EY apontou que em 2019 a receita dos principais clubes brasileiros atingiu R$ 6,1 bilhão. Houve uma queda em 2020 por causa da pandemia, deixando esse número em R$ 5,3 bilhões. Em 2021, com as ressalvas feitas pelos ajustes do calendário, só o Flamengo bateu a marca de R$ 1 bilhão. O Palmeiras se aproximou disso também, reforçando que, ao menos na elite, há um caminho de crescimento. A CBF também consegue seu quinhão com a competição ao vender, por exemplo, os naming rights da Série A ao Assaí.
Em relação ao público, a retomada do ritmo de crescimento da média de torcedores nos estádios é a grande meta da CBF em 2022. As arenas ficaram completamente fechadas em 2020 e só na reta final de 2021, com restrições, que voltaram a ser preenchidas. Isso interrompeu uma sequência de crescimento que teve como auge a edição de 2019: no ano em que o Flamengo foi campeão, a média de público da Série A ficou em 21.237 torcedores/jogo. Foi a melhor marca desde 1983.
"Em 2019, a gente bateu o recorde. Esperamos superar essa marca. A gente conta com grandes estádios, um campeonato forte, com grandes equipes, ídolos. O torcedor indo e voltando com segurança. A gente torce para manter essa crescente", completou Manoel Flores. A gente está bem servido na Copa do Brasil. Quando entram os clubes da Libertadores, na terceira fase, que foi a mudança que fizemos ano passado, é inegável que é quase um brasileiro de mata-mata. Então, tem para os dois gostos. Tem torneio para os grandes clubes de mata-mata e tem os pontos corridos. Um premia o momento, a torcida, o fator casa, características do mata-mata. E o outro vai pela regularidade, o plantel. Tem para os dois gostos", comentou.
O campeonato continua imprevisível?
A fórmula dos pontos corridos tem como premissa beneficiar quem é o mais consistente ao longo do campeonato como um todo. Nos pontos corridos, não se ganha um título com somente um dia de inspiração e, ao mesmo tempo, não se paga o preço por uma jornada de apagão. A matemática é simples: fica com a taça quem consegue, ao longo de quase oito meses, somar mais pontos.
O efeito do formato — que ainda teve reduções no número de participantes, chegando, em 2006, aos 20 atuais — foi uma concentração maior de conquistas entre os chamados grandes. Especificamente entre os que viveram suas melhores fases financeiras nesse período. Em novembro, veremos o resultado dessa e outras brigas ao longo da tabela.
De 2003 para cá, o Brasileirão teve oito campeões diferentes em 19 edições — Cruzeiro, Santos, Corinthians, São Paulo, Flamengo, Fluminense, Palmeiras e Atlético-MG. Nas 19 edições anteriores a 2003, com formato mata-mata, foram 13 campeões diferentes (12, se considerar a Copa União como título da Série A, vencido pelo Flamengo): Santos, Athletico, Vasco, Corinthians, Grêmio, Botafogo, Palmeiras, Flamengo, São Paulo, Bahia, Coritiba, Sport e Fluminense.
Na outra ponta, muito time robusto visitou a Série B, como Botafogo, Palmeiras, Atlético-MG, Grêmio, Corinthians, Cruzeiro e Vasco. Tem gente que caiu mais de uma vez, outros que nem conseguiram subir de volta ainda.
Na Série A que se inicia, o favoritismo recai sobre quem tem poderio financeiro para manter um elenco estrelado. Por isso, na primeira prateleira estão o atual campeão Atlético-MG, o Palmeiras — bicampeão da Libertadores —, e um Flamengo que tem cofres cheios, mas passa por uma instabilidade técnica, de ambiente e política.
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