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Médicos fazem alerta sobre risco de saúde cardiovascular em mulheres
Enfermidades matam mais brasileiras do que todos os tipos de câncer somados
A cada seis minutos, uma brasileira morre vítima de doença cardiovascular. Essas enfermidades, incluindo acidente vascular cerebral (AVC) e infarto, matam mais mulheres do que todos os tipos de câncer somados. Alguns fatores de risco específicos — como gravidez e anticoncepcional — influenciam. Somados a isso estão a menor representatividade em estudos clínicos e o menor acesso a exames, que elevam o risco de subdiagnóstico.
Por causa disso, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou nesta quinta-feira (13) um documento de alerta sobre o problema. No manifesto, a entidade propõe reduzir a mortalidade feminina decorrente de doenças cardiológicas em 30% até 2030.
—Na mortalidade proporcional das mulheres (que considera todas as causas de morte), as doenças cardiovasculares têm proporção maior do que nos homens — diz Glaucia Moraes de Oliveira, diretora da SBC.
Entre brasileiras, essa taxa era de 30,4% em 2019, ante 26,4% entre homens. Segundo Glaucia, a prevalência das doenças cardiovasculares tem crescido entre jovens e mulheres no pós-menopausa.
Para frear esse avanço, uma das medidas é conscientizar as mulheres sobre uma rotina de exames periódicos, como na prevenção do câncer de mama e de útero:
— Mulheres são subdiagnosticadas e subtratadas. Muitas vezes, não valorizam seus sintomas e não procuram médico.
Como política pública, recomenda-se incluir indicadores de saúde cardiovascular em programas de Assistência Primária à Saúde (APS), no atendimento pré-natal e na transição da menopausa.
Riscos
Fatores de risco tradicionais para doenças cardiovasculares são os mesmos para homens e mulheres. Alguns exemplos são hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, altos níveis de gordura no sangue e sedentarismo. Mas, para um diagnóstico mais preciso, é preciso considerar também fatores de risco específicos delas. Conforme Glaucia, o funcionamento hormonal é o que faz com que aspectos psicossociais sejam mais determinantes.
— Os hormônios femininos agem em diversos receptores em que a testosterona não funciona. O estresse nas mulheres leva a maior taquicardia, mais consumo de oxigênio. As mulheres não têm muitas doenças obstrutivas crônicas, mas têm mais disfunção endotelial (membrana que reveste parte do coração e os vasos sanguíneos) — explica.
Além disso, as coronárias (artérias que nutrem o músculo cardíaco) femininas são mais finas, o que eleva a tendência de bloqueios arteriais. Já a menopausa faz com que a fabricação de estrogênio diminua, fazendo com que o coração perca proteção natural.
E até a pobreza pesa mais para a mulher. A SBC estima que cerca de metade da mortalidade por doenças cardiovasculares antes dos 65 anos pode ser atribuída a desigualdades sociais, ligadas a fatores como alimentação inadequada, álcool, tabagismo, instabilidade econômica e falta de suporte social e acesso à saúde. Além disso, influencia negativamente o acúmulo de estresse e burnout, sobrecarga frequentemente relacionada ao papel social feminino e agravada na pandemia, com situações como o trabalho remoto e a suspensão de aulas presenciais.
— O que percebemos, principalmente nos últimos cinco anos, é um olhar voltado para mulheres que tratam mulheres — diz Ieda Jatene, presidente da Sociedade de Cardiologia de São Paulo. Ela e mais dez cardiologistas do HCor, há um ano, se reúnem mensalmente para debater artigos e compartilhar informações. Agora, a ideia é transformar a unidade de medicina diagnóstica do HCor Cidade Jardim em um espaço voltado para a saúde feminina, com atendimento inteiramente feito por mulheres. Segundo Salete Nacif, também do HCor, há relatos e evidências de que mulheres com doença cardiovascular, quando atendidas por mulheres, costumam ser menos negligenciadas nos seus sintomas.
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