Eleito o primeiro negro para dirigir a Faculdade de Medicina da Bahia em 215 anos de história da instituição, o professor Antônio Aberto Lopes, foi alvo de ataques racistas durante a campanha. 

As ofensas racistas começaram no início da campanha que elegeria a nova direção da Faculdade de Medicina. Pelo menos dois e-mails foram enviados às turmas do curso de Medicina por um remetente autointitulado "Voz do Deserto" com as ofensas de cunho racial. 

O docente da Universidade Federal da Bahia e cientista internacionalmente respeitado foi eleito pela Chapa 1, ao lado do professor Eduardo Reis, na noite desta quinta-feira (25) com a maioria dos votos dos alunos, docentes e servidores da universidade.

O deputado estadual da Bahia Robinson Almeida, disse que racismo é inaceitável e que autores de ataques contra o professor precisam responder por seus crimes. "Primeiro, celebramos essa importante e histórica vitória do professor Antônio Lopes, do professor Eduardo Reis, da Chapa 1 e da Faculdade de Medicina. Ela é significativamente representativa, uma vitória também da luta antirracista, que marca, definitivamente, uma nova era, um novo tempo, em que a democracia se fortalece e não retrocede à práticas segregadoras e abomináveis como o racismo. Avançamos e precisamos avançar muito mais".

"A Bahia é o maior estado de população negra fora da África. Temos sangue e orgulho da nossa história racial. Temos ódio ao racismo. Racismo é crime e prática de gente ruim. Racismo é inaceitável. Portanto, importante que os autores desse crime sejam identificados e responsabilizados. É preciso acabar com a impunidade e promover, verdadeiramente, a justiça", afirmou Robinson Almeida. 

História 

Antônio Lopes cresceu no bairro do Lobato, Subúrbio Ferroviário de Salvador. É filho de um alfaiate e uma dona de casa. Ele ingressou na Faculdade de Medicina da UFBA em 1980. Tem PhD em Ciência Epidemiológica, é mestre em Saúde Pública (MPH) pela Universidade de Michigan e em Medicina Interna pela UFBA. Ele é professor titular e livre docente do departamento de Medicina Interna/Nefrologia da UFBA e chefe do Núcleo de Epidemiologia Clínica e Medicina Baseada em Evidências do Hospital Universitário Professor Edgard Santos. Tornou-se membro da Academia de Medicina da Bahia. Ele também foi pró reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFBA e autor de mais de artigos publicados em revistas nacionais e internacionais.