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Mais de 280 militares deixaram a PM de Alagoas nos últimos 10 anos; soldados lideram pedidos de desligamento
Inspirada pela cultura pop por meio do filme Tropa de Elite, a expressão “Pede pra sair!” virou bordão no imaginário popular. Mas, na Polícia Militar de Alagoas (PM-AL), ela passou da ficção à realidade. Dados obtidos com exclusividade pela Gazeta revelam que, entre 2015 e 2025, 285 policiais militares pediram licenciamento da corporação, a maioria praças. A debandada é puxada por soldados que, em sua maioria, enxergam na PM um caminho provisório para conquistar estabilidade financeira antes de migrar para outras carreiras — muitas vezes, dentro do próprio serviço público, mas longe da estrutura militarizada.
Um desses ex-policiais é o agora advogado Felipe Sabino, que entrou na PM-AL em 2013. Em 2024, após 11 anos de serviço, pediu desligamento. A decisão veio durante uma licença especial, quando experimentou o dia a dia mais flexível de um escritório de advocacia. “Voltei sabendo o que queria — e o que não queria mais”, relata. Para ele, a PM foi importante em sua trajetória, mas não representava um projeto de vida. “Se você precisa do emprego, vá. Mas, se puder mirar mais alto, recomendo buscar outra coisa, até na área policial, mas com melhores condições”, afirma.
Já Dhyhollanes Cavalcante, que também ingressou na PM-AL em 2013, decidiu sair antes: tornou-se Policial Rodoviário Federal (PRF) em 2019. Hoje, relembra que sua passagem pela PM teve momentos difíceis, com restrições de autonomia, escalas abusivas e obstáculos à formação acadêmica.
“Mesmo sem problemas com hierarquia, nunca concordei com o modelo militar. Ele limita o crescimento da instituição e o próprio bem-estar dos policiais”, diz Cavalcante, que hoje já soma mais de 30 viagens de avião — um contraste com a realidade anterior. “Antes de ser PRF, só tinha viajado de avião uma vez. Agora, levei até meus pais para conhecer Paris e Londres.”
Soldados lideram pedidos de saída - Dos 285 licenciamentos voluntários registrados na última década, 203 foram de praças — grupo que inclui soldados, cabos e sargentos. Entre oficiais, apenas três deixaram a corporação por vontade própria. O restante é composto por alunos que desistiram durante a formação: 72 entre soldados em formação, cinco cadetes do curso de oficiais e dois candidatos.
O ano de 2023 foi o recordista, com 66 licenciamentos, média de quase três saídas por mês. Já o menor número foi em 2021, com apenas cinco, durante a pandemia. Entre os cargos, os soldados são maioria: 174 pedidos de licenciamento. Em seguida vêm os soldados ainda em formação (62) e os cabos (30).
Para quem saiu da corporação, o motivo vai além da remuneração. O que pesa são as condições de trabalho, a falta de autonomia, os entraves à formação e a estrutura rígida e hierarquizada da PM. Sabino relata que até viagens pessoais eram motivo de controle. “Pra sair do estado, tem que pedir autorização ao comandante-geral. Pra sair do país, só com autorização do governador. Não temos o mesmo direito de ir e vir que um civil.”
Cavalcante reforça a crítica à estrutura jurídica da corporação: “O sistema é péssimo. Eu tive dificuldades até pra trocar plantões, o que atrapalhava meus estudos. E às vezes, você nem entende o porquê dos obstáculos.”
Cultura militar afasta e adoece, aponta especialista - A professora Elaine Pimentel, diretora da Faculdade de Direito da UFAL e pesquisadora em segurança pública, vê o fenômeno como parte de um problema estrutural. Segundo ela, muitos jovens enxergam a PM como porta de entrada para a estabilidade, sem conhecer os impactos físicos e emocionais da profissão. “O assédio moral é naturalizado nos espaços militares. Essa cultura castrense adoece e é responsável por altos índices de ansiedade, depressão e até suicídios”, alerta.
Ela defende que o Estado precisa valorizar a carreira policial de forma integral, com investimentos em saúde mental, melhores condições de trabalho e quebra da cultura de brutalidade. “Sem isso, o desencanto com a profissão será constante. A evasão continuará.”
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