O presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, anunciou que não estará presente na Conferência do Clima da ONU (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, devido aos altos custos logísticos envolvidos. A decisão foi comunicada oficialmente nesta terça-feira (05) e divulgada pela emissora pública austríaca ORF.

Segundo o gabinete da Presidência austríaca, os valores estimados para a viagem excedem o orçamento disponível para esse tipo de deslocamento. “Os custos excepcionalmente elevados para viabilizar a participação do presidente na COP deste ano não se encaixam no orçamento limitado da Presidência, especialmente devido às dificuldades logísticas envolvidas”, informou a nota oficial.

A crise envolvendo hospedagens e infraestrutura em Belém tem sido um dos principais desafios para a organização da COP30. Representantes de governos estrangeiros e entidades da sociedade civil têm pressionado o Brasil a encontrar alternativas diante da escalada nos preços praticados pela rede hoteleira da capital paraense.

O gabinete austríaco justificou que a ausência do presidente também está relacionada a um esforço nacional de contenção de despesas públicas, num momento em que o país enfrenta um déficit superior a 4% do PIB e pode sofrer sanções da União Europeia por descumprimento das regras fiscais. “A atual consolidação orçamentária exige cortes e disciplina de todos os órgãos do governo”, destacou o comunicado.

Van der Bellen afirmou ter refletido cuidadosamente antes de tomar a decisão e desejou êxito ao evento climático. No ano passado, durante a Assembleia Geral da ONU, ele se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e elogiou o foco dado às mudanças climáticas no discurso do líder brasileiro. Os dois discutiram temas como transição energética e fontes renováveis.

Apesar da ausência de Van der Bellen, a delegação austríaca estará representada pelo ministro do Meio Ambiente, Norbert Totschnig. “Mais do que nunca, é essencial demonstrar união internacional no enfrentamento da crise climática”, declarou o ministro.

A organização da COP30 ainda não se posicionou sobre a decisão do presidente austríaco. Entretanto, o presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, reconheceu que a alta nos preços de hospedagem em Belém pode prejudicar a representatividade das negociações.

“Se parte das delegações não puder comparecer à conferência por questões financeiras, isso pode gerar dúvidas sobre a legitimidade das decisões tomadas”, afirmou Corrêa do Lago durante evento promovido pelo Insper nesta terça-feira. Ele ainda ressaltou que, apesar dos esforços da Casa Civil para melhorar a infraestrutura, os preços dos hotéis continuam sendo um entrave difícil de resolver, em razão das limitações legais brasileiras.

A menos de 100 dias do início do evento, o custo de acomodações simples em Belém já supera, em alguns casos, as tarifas de hotéis de luxo em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Essa disparidade vem gerando protestos por parte de representantes de 27 países, que recentemente enviaram uma carta exigindo providências sobre a infraestrutura local.

Organizações da sociedade civil também têm manifestado preocupação. A Climate Action Network Latin America (CANLA), braço latino-americano da maior rede mundial de ONGs ambientais, alertou para o impacto que os altos custos podem ter na inclusão de representantes da sociedade civil no evento.

“A elevação exagerada nos preços de hospedagem, em um contexto global de dificuldades econômicas e redução de recursos para a agenda climática, não é apenas um problema logístico, é uma barreira direta à participação efetiva da sociedade civil”, declarou Karla Maass, porta-voz da organização.