A menina Benigna Cardoso da Silva, mais conhecida como Menina Benigna, já é abençoada. Os católicos brasileiros, especialmente do Ceará, no nordeste do país, aderiram com fervor à cerimônia desta segunda-feira com que o Vaticano deu o primeiro passo para fazer desta menina uma santa, que costuma ser representada com um vestido vermelho. , as roupas que usava quando perdeu a vida. Para milhares de fiéis neste recanto do Brasil, ela é uma santa há muito tempo. A menina tinha 13 anos quando foi assassinada em 24 de outubro de 1941 enquanto tentava resistir ao estupro. Desde então, tornou-se objeto de devoção popular, principalmente entre muitas mulheres vítimas de violência sexista. As peregrinações e histórias de milagres aumentarão previsivelmente a partir de agora.

A cerimônia de beatificação aconteceu na pequena cidade do Crato, onde se reuniram mais de 60.000 peregrinos da região. O arcebispo de Manaus, Leonardo Steiner, presidiu a cerimônia e, ao ler a carta apostólica do Vaticano, destacou que a jovem mártir "observando a palavra de Deus preservou sua vida para defender sua dignidade de mulher até a infusão de sangue ". Órfã de um casal de agricultores, ela havia sido adotada por uma mulher em Santana do Cariri. Em sua escola ela foi assediada por um certo Raúl, 17 anos, que um dia, quando ia buscar água de um poço, tentou estuprá-la. Ela tentou resistir e acabou recebendo dezenas de facadas nas mãos, pescoço e rosto. Ele confessou o crime, e ela se tornou o epicentro de um fenômeno de devoção popular que tem aumentado nos últimos anos.

Muitas mulheres espancadas ou vítimas de abuso sexual rezam para ela e confiam-se a ela. No ano passado, 308 mulheres foram assassinadas no Ceará, mas apenas 10% desses assassinatos foram classificados como feminicídios, o que, segundo especialistas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sugere que os registros sejam feitos "de forma precária". Misturando religião e políticas públicas, o Ceará declarou o dia da morte de Benigna o dia estadual de luta contra o feminicídio . A Governadora do Estado, Izolda Cela, esteve presente nesta segunda-feira na cerimônia de beatificação.

O evento foi grande para aqueles acostumados a humildes peregrinações ao túmulo de Benigna. Participaram 36 bispos, 200 padres e 200 seminaristas. O palco tinha 33 metros de comprimento (a idade de Cristo) e 12 metros de largura (os apóstolos). É o prelúdio do que está por vir. Na pacata cidade de Santana do Cariri, a prefeitura já está preparando uma estátua de 20 metros de altura e todo um complexo turístico-religioso.

A solenidade da beatificação deveria ter ocorrido em outubro de 2020, mas o Vaticano adiou a data devido à pandemia de covid-19. Após dois anos de espera, Benigna já pode ser venerada nas igrejas católicas de todo o país, embora para se tornar santa será necessário esperar pelo menos dois milagres para serem verificados. No momento, a única santa nascida no Brasil é Santa Dulce dos Pobres, freira de Salvador da Bahia canonizada pelo Papa Francisco em outubro de 2019.

O empobrecido nordeste do Brasil é um dos bastiões do catolicismo em um momento em que os evangélicos ganham espaço aos trancos e barrancos. O Brasil é o país com mais católicos do mundo, mas eles podem deixar de ser maioria nos próximos anos, o que de certa forma explica os esforços da Igreja de Roma para abraçar a devoção popular dos brasileiros.

*El País