Alagoas

MOVIMENTO

Saúde mental da mulher negra mobiliza empreendedoras em evento no Sebrae

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana Caribenha foi celebrado com palestras e desfile de moda ancestral

Por Redação com assessoria 26/07/2023 16h04
Saúde mental da mulher negra mobiliza empreendedoras em evento no Sebrae

Com foco na saúde mental das mulheres pretas e o seu impacto nos negócios, o Sebrae Alagoas realizou na noite desta terça-feira (25) o evento Afrofuturas, que reuniu empreendedoras e representantes do movimento negro no estado para uma roda de conversa no Espaço Sebraelab. O encontro também marcou a comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana Caribenha, encerrado com um desfile de moda ancestral.

Durante mais de três horas, as convidadas falaram sobre o tema usando suas próprias experiências de vida para recomendar práticas e hábitos que as ajudam a elevar a autoestima e a enfrentar o racismo na sociedade, seja ele estrutural ou institucional.

O diretor-técnico do Sebrae Alagoas, Keylle Lima, abriu o evento lembrando que no Brasil ainda há muito racismo a ser enfrentado, agravado ainda pelo sexismo que penaliza as mulheres. “Mas eu costumo dizer que o empreendedorismo com propósito é aquele que vence barreiras, vence obstáculos, vence desafios. E o Sebrae tem isso como pauta, como plano estratégico, para fomentar e promover o empreendedorismo feminino, que não tem cor, respeita a diversidade, sem nenhum obstáculo de gênero. Essa é a nossa função”, destaca.

Ele lembrou ainda das oportunidades a serem aproveitadas no âmbito da Economia Criativa e da Lei Paulo Gustavo. “Hoje existem muitos recursos disponibilizados aos 102 municípios alagoanos que nós conseguimos viabilizar por meio de capacitações das prefeituras. É uma alegria muito grande ter esse pessoal reunido aqui hoje, sabendo que o Sebrae está 100% à disposição de todas”, completa.

Painel


Deisiele Souza, professora e palestrante, abriu o painel “A importância da saúde mental para a mulher negra e o impacto nos negócios”, mediado pela presidente do Coletivo Nosso Ilê, Thaisa Torres.

Ela conta que costuma se apegar ao samba e às sessões de terapia para manter a saúde mental nos eixos e que isso a ajuda a se firmar no dia a dia. “É preciso que a gente ‘se venda’ e que não tenhamos medo disso nem de ninguém. É trabalhar todo o dia para nutrir o sentimento de pertencimento. Eu costumo dizer que não nasci negra, eu me tornei uma pessoa negra. Como está o pertencimento de vocês?”, indaga Deisiele.

Crystiane Castro, psicóloga e cientista social, relembra que decidiu priorizar sua saúde mental com mais afinco depois que trocou um trabalho que não a fazia feliz pelo empreendedorismo.

“Fiquei 16 anos trabalhando num lugar que não me completava. Foi aí que mergulhei na espiritualidade, porque ela ajuda a nos conectar com a gente mesmo. Não é do nosso povo ser competitivo, ser agressivo. Isso já é feito pelo sistema, pelo capitalismo, e nós não precisamos ser assim. A mulher preta tem uma tendência de ajudar muito os outros, mas ela não se ajuda. Isso é muito ruim. Por isso, é muito importante que a gente tenha um momento só nosso, seja caminhar na praia, meditar, ler ou ir ao médico”, diz.

Já a professora e empreendedora cultural Salete Bernardo considera importante a mulher negra saber e conhecer mais sobre a sua ancestralidade, para buscar forças para combater o patriarcado, refletindo positivamente na qualidade da saúde mental de cada uma delas.

“Eu só fui entender muito tempo depois essa questão do porquê as mulheres negras ainda terem, até hoje, medo do patriarcado. É preciso entender que esse sistema não quer que você seja artista, não quer que você seja uma profissional competente. Eu aprendi que a minha felicidade incomoda muita gente. É preciso incentivar o letramento racial também. É horrível você ter que provar todo dia que é boa, que é competente”, desabafa.

A cantora Alice Gorete, por sua vez, conta que encontrou no hip hop a fórmula para se firmar num mundo cada vez mais racista. “O estilo musical me atraiu. Não tem problemas em você impor um limite para seu espaço nessa vida. A gente também precisa dizer não sempre quando julgar necessário”, afirma.

Desfile


Além da roda de conversa, o Afrofuturas também contou com uma palestra sobre moda ancestral, ministrada pela produtora de estilo Mara Galvão, criadora da marca de roupas Coloral, e um desfile com peças confeccionadas com essa temática.

Ela relembrou o início da carreira, quando ainda usava a máquina de costura da mãe para produzir algumas peças de roupas. “A Coloral começou como um ateliê e na época eu ainda não via como um negócio. Eu costumava dizer apenas que eu “costurava”, sem notar que, na verdade, eu já estava empreendendo”, conta. “Eu costumo chamar de ‘moda não-branca’. O problema é quando a classe dominante pega elementos da moda ancestral e se apodera dela, fixando um valor que não condiz com a realidade da maioria das pessoas”, observa.

Para ela, a Coloral é mais que uma marca de roupas. “É um sentido na minha vida. Meu maior desafio é saber como levar o meu conhecimento adquirido nos livros para a moda, com foco em elementos da ancestralidade”, revela.

Gestora do Sebrae Delas, a analista Érica Pereira afirma que eventos como o realizado na noite desta terça-feira fortalecem o negócio de cada uma das mulheres negras que participaram do encontro. “Isso mostra o quanto as mulheres pretas se apoiam pelas suas causas, suas histórias, onde em algum momento elas se cruzam e conseguem se conectar”, avalia.

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