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Eventos extremos provocam chuvas recordes e centenas de mortes no Brasil
Enquanto no Sul, Brasileiro tiram seus casacos do guarda-roupas, no NE contabilizam-se mortos
Enquanto os brasileiros tiram os cobertores do armário no Sul e, no Nordeste, contabilizam os mortos após chuvas torrenciais em pleno outono, no hemisfério norte alguns países derretem sob um calor atípico na primavera.
A surpresa de populações inteiras com a mudança no tempo não surpreende cientistas, que há anos alertam: se a temperatura da Terra não parar de subir até 2030, eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo.
O mês de março na Índia foi o mais quente em 122 anos; no Paquistão, o mais quente da história. As temperaturas que beiraram os 50ºC nesses países provocaram cortes frequentes de energia e de fornecimento de água para 1,4 bilhão de pessoas (quase 20% da população mundial).
"Na Espanha, uma onda recorde de calor em maio elevou em 7ºC a temperatura média para o mês em todo o país. Em Jaén, a 332 km da capital Madri, o calor foi de 40ºC, "episódio muito incomum que pode ser um dos mais intensos dos últimos 20 anos", estima Ruben del Campo, porta-voz da agência estatal de meteorologia.
No Brasil, maio pegou as regiões Sul e Sudeste de surpresa, com temperaturas muito baixas para o outono. A última semana do mês começou com termômetros abaixo de 0ºC em algumas cidades, como na gaúcha Pinheiro Machado, onde registraram -5,6ºC.
A massa de ar frio que atingiu boa parte da América do Sul, no mês passado, também derrubou marcas históricas em lugares onde as temperaturas baixas são coisa rara.
A cidade-satélite do Gama, a 30 km de Brasília, registrou em 19 de maio a temperatura de 1,4ºC, a mais baixa já vista no Distrito Federal.
Esses extremos climáticos não estão vinculados necessariamente à estação em que seriam esperados, diz o climatologista José Marengo —membro da Academia Mundial de Ciências—, que usa como exemplo as ondas de frio fora de época que vêm atingido a região Sudeste, especialmente o estado de São Paulo.
Na primavera de 2020, por exemplo, uma onda de calor atingiu São Paulo, derrubando antigos recordes. Naquele mês, o estado registrou quatro das dez temperaturas mais altas já aferidas, incluindo a mais extrema: no dia 7 de outubro, os termômetros em Lins marcaram 43,5 ºC, batendo o recorde estadual que durava desde 1933, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
O evento climático extremo mais recente, no entanto, foi a chuva que desabou sobre o Nordeste, deixando 128 mortos em Pernambuco, em roteiro que já se repetiu seis vezes no Brasil entre dezembro do ano passado e o início de 2022, quando, no fim do verão, temporais arrastaram casas inteiras construídas sobre encostas na Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (Petrópolis duas vezes e Angra dos Reis).
A cidade da região serrana do Rio foi a que registrou o maior número de mortos por causa das chuvas este ano: 233.
Eventos climáticos extremos no Brasil
Ainda dá tempo de reverter?
É com números pessimistas que o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), da ONU (Organização das Nações Unidas), tenta ser otimista: seu último relatório aconselha o mundo a zerar as emissões de gases poluentes até 2030 como condição para reduzir a frequência de eventos climáticos fora dos padrões.
A data não foi escolhida por acaso. O desmatamento e queima de combustíveis fósseis já aqueceram o planeta em 1,2ºC em relação aos níveis pré-industriais. Se essas emissões não cessarem, o mundo romperá a marca de 1,5ºC justamente em 2030, uma década antes do que o IPCC previu há três anos.
O resultado, segundo o IPCC, é que se tornará irreversível a repetição cada vez mais frequente de fortes ondas de frio, calor, inundação e secas prolongadas.
"Esses extremos climáticos se devem a atividades humanas", diz Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
"Não dá para garantir que um evento especifico em algum ponto se deva ao aquecimento global, mas dá para afirmar que o aumento da intensidade e da frequência, como temos visto no Brasil, é culpa das mudanças climáticas."
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