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É Penta!

20 anos do penta: título foi marco para futebol nacional; o que esperar para futuro

Próximo da disputa do hexa, em outubro, no Qatar, Brasil é mais uma vez favorito ao título

Por Com O Globo 30/06/2022 12h12 - Atualizado em 30/06/2022 16h04
20 anos do penta: título foi marco para futebol nacional; o que esperar para futuro
Rivaldo e Ronaldo foram fundamentais no titulo - Foto: Divulgação

Quando Rivaldo fez o corta-luz para Ronaldo tocar no canto esquerdo do goleiro alemão Oliver Kahn, o Brasil soltou o grito de pentacampeão mundial naquela longínqua manhã de domingo. Duas décadas depois, ao olhar para trás, é possível constatar que aquele título não foi apenas mais um capítulo na história vitoriosa da seleção brasileira. 

Ali, encerrava-se um modelo do futebol nacional, com todos os prós e contras que viriam a seguir em âmbito internacional e caseiro. Hoje, no ano em que o país busca o hexa, sempre como um dos favoritos, um novo ponto de ruptura vai se formando internamente e a pergunta que fica, com ou sem título mundial é: como estará o futebol brasileiro daqui a 20 anos?

Para pensar no futuro, há de se revisitar o passado. A virada do futebol brasileiro após o penta não é explicada pelo título em si, mas pela conjuntura de momento. Naquele ano, o Clube dos 13 votou pelo formato de pontos corridos, ainda com 24 clubes (três anos depois, foi reduzido para 20), aumentando as datas do Campeonato Brasileiro na temporada, com alguma perda dos estaduais.

A introdução do novo formato foi fundamental na reorganização do futebol brasileiro como negócio. A certeza do número de jogos na temporada e o fim do tapetão nos rebaixamentos — Palmeiras e Botafogo, por exemplo, caíram em dezembro de 2002 e, no ano seguinte, disputaram a Série B — valorizaram o produto, que passou a ser negociado com valores a cada ano maiores de direitos de transmissão.

"O penta foi importante, mas não foi o mais importante para estrutura do futebol brasileiro naquele ano. Organizou-se melhor a venda dos direitos de transmissão, os clubes puderam organizar a temporada, criar programas de sócios, fazer venda antecipada de ingressos", diz o colunista do GLOBO Rodrigo Capelo, especialista em negócios do futebol.

A reestruturação, no entanto, não foi capaz de elevar o futebol brasileiro ao nível do europeu como negócio. Um dos principais motivos está na Lei Bosman, de 1995, que abriu o mercado estrangeiro aos craques brasileiros e gerou um êxodo de jogadores que se intensifica a cada ano, com atletas cada vez mais novos. Isso teve reflexo no jogo dentro do país e nas disputas intercontinentais. Nos últimos 20 anos, em apenas três ocasiões um time brasileiro bateu um europeu.

Naquele Mundial do Japão e da Coreia, por exemplo, Luiz Felipe Scolari convocou mais jogadores atuantes no Brasil do que na Europa (13 a 10); e três eram titulares: Marcos, Kleberson e Gilberto Silva. Ali, no entanto, outras circunstâncias levaram Felipão a priorizar o futebol interno, como a montagem de um time com atletas de confiança em pouco tempo.

Hoje, Tite dificilmente levará mais de dois jogadores que não atuam na Europa entre os 26 convocados.

"A Europa passou a concentrar os melhores jogadores brasileiros. Por isso, o futebol doméstico não tem tanta importância para o futuro da seleção. Estão jogando nesse caldeirão de ideias, e estão se formando lá. Hoje, um jogador com mais de 22 anos, se não desenvolveu ainda, não vai mais para uma grande praça. E os resultados numa Copa do Mundo também são frutos de muito acaso", afirma o jornalista inglês Tim Vickery, afirmando que a distância entre as seleções, no entanto, têm diminuído.

Como produto rentável dentro e fora do país, o futebol brasileiro vive a expectativa de outra grande mudança, com a introdução das SAFs e da constituição da liga nacional. A transformação de clubes em empresa, que não deu certo há mais de 20 anos com a Lei Pelé e a chegada de parceiros como a ISL no Flamengo, agora encontra uma ambiente frutífero no país e no mundo, com investidores internacionais cheios de apetite.

Avanços internos


Porém, o mercado externo está quase todo ocupado pela Europa, que vende suas grandes ligas para audiências em todo o mundo. Além disso, o futuro esbarra numa figura que ainda domina o futebol nacional: o dirigente de clube.

"Os clubes avançaram muito nesses 20 anos em suas estruturas, com melhor governança, departamentos de marketing, comunicação. Mas não conseguimos profissionalizar o dirigente. A Europa está sempre 10 anos à frente do Brasil", analisa Capelo.

A política dentro dos clubes continua sendo um impasse no avanço do negócio, que, na visão de Vickery, só teria espaço numa integração com Estados Unidos e México, dois grandes polos de audiência. Porém, o calendário inchado é um dos entraves.

"Lá atrás, na mudança do formato do Brasileiro, todo mundo cedeu, pois ninguém queria perder, e foi mantido o modelo dos estaduais. Mas o capital internacional não está nem aí para os políticos dos clubes e seus acordos. Não sei como será esse desfecho", conclui Vickery, acrescentando. — Mas o Brasil sempre será favorito num Mundial pelo tamanho do país, que produz atletas em massa.













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