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Como evitar que a Amazônia entre em colapso em 2050
A Amazônia corre um enorme risco: colapsar em 2050. Essa foi a conclusão de um artigo científico liderado por cientistas brasileiros, publicado esta semana na Revista Nature. A ruína do bioma está associada ao chamado "ponto de não retorno", um limite que, se ultrapassado, leva a uma mudança abrupta num ecossistema. Ou seja, a floresta tropical viraria uma savana e nunca mais voltaria a ser o que era antes.
Se a Amazônia chegar ao ponto de colapso parcial ou total, as consequências serão muitas, declara o secretário nacional de Controle do Desmatamento e Ordenamento Territorial e Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, André Lima.
"A principal delas é a mudança no regime de chuvas, no regime de umidade da região. A Amazônia é uma floresta tropical, é uma floresta úmida e, portanto, a alteração na umidade muda todo o seu ciclo e cria uma condição de vulnerabilidade a incêndios e a secas mais intensas e mais constantes, infelizmente, como aquela que tivemos ano passado — e ainda estamos vivendo as consequências dela — que foi causada pelo efeito El Niño. Se ultrapassarmos o ponto de não retorno, o que a gente assistiu no ano passado será muito mais frequente", alerta o secretário.
Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia brasileira perdeu 54,6 mil km² nos últimos 5 anos. A devastação desacelerou no ano passado. Mas os efeitos climáticos colaboram para a aproximação do bioma ao ponto de não retorno.
"Nós ainda estamos sob os efeitos do chamado El Niño, esse fenômeno de aquecimento do Oceano Pacífico que altera o regime climático de todo o hemisfério Sul, com forte impacto nessa região central da Amazônia. Nós estamos vivendo ainda o rescaldo desse fenômeno, portanto a floresta está mais vulnerável. Isso causa vários efeitos. Mais incêndio, por exemplo, além de comprometimento da biodiversidade. Compromete o ar que se respira nas principais capitais amazônicas. São 30 milhões de habitantes na região amazônica. Em épocas do ano muito secas e com queimadas, tem uns problemas graves respiratórios — crianças, idosos sofrem significativamente um comprometimento da qualidade de vida e risco à saúde", pontua André Lima.
O estudo publicado na revista internacional foi liderado pelos pesquisadores Marina Hirota e Bernardo Flores, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e contou com colaboradores do Brasil, Europa e Estados Unidos. O relatório destaca a grande perda da floresta ao longo dos anos, e conclui que o colapso daqui pouco mais de 25 anos pode acelerar o aquecimento global.
O governo prometeu colaborar com a meta de zerar o desmatamento da Amazônia até 2030, conforme compromisso brasileiro firmado no Acordo de Paris. O acordo definiu em 2015 uma limitação do aquecimento global, com perspectiva de que o aumento da temperatura não ultrapasse 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais. Isso é possível e fundamental para evitar problemas mais graves como o ponto de não retorno, defende o secretário André Lima. "Sim, é possível atingirmos o desmatamento zero, mas o atingimento dessa meta depende de uma série de fatores. O governo federal está implementando um conjunto de ações bem importantes desde o dia 1º de janeiro de 2023. Um dos primeiros decretos que o governo assinou foi reconstituindo a Comissão Permanente Interministerial de Prevenção e Controle dos Desmatamentos, que atua na Amazônia, no Cerrado e em todos os biomas. Elaboramos um plano em tempo recorde, em 3 meses praticamente, lançando na semana de Meio Ambiente, no dia 5 de junho", relembra.
"Ao longo do primeiro semestre inteiro do ano passado, o Ibama, ICMBio e a Polícia Federal fortaleceram as ações de comando e controle, de fiscalização. Não por acaso, a partir de abril, maio do ano passado, a curva de desmatamento, que vinha numa ascensão, numa alta de 55%, fechou o ano com queda de 49,5%. Agora em janeiro e fevereiro, os índices continuam caindo ainda mais", observa André Lima.
*Brasil de Fato
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