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Brasil vive aumento do turismo de observação de baleias

Por Redação com site* 16/07/2023 16h04
Brasil vive aumento do turismo de observação de baleias

Em alto-mar, um borrifo de água, como um chafariz brotando no meio do oceano, chama a atenção da tripulação. É o sinal de que há uma baleia jubarte nos arredores, e o barco precisa se dirigir até aquele ponto, a algumas centenas de metros de distância. Poucos minutos depois, pesquisadores, fotógrafos e curiosos vibram: eles estão diante de um dos maiores mamíferos do mundo, que se exibe ora em mergulhos em que abanam a cauda para fora d’água, ora em saltos de deixar o queixo caído.

Com o aumento da população de baleias que passam pelo litoral brasileiro anualmente, além do maior conhecimento de institutos de pesquisa e a capacitação de barqueiros e guias, está em ascensão no Brasil um turismo de observação: isso mesmo, pessoas que vêm de várias regiões e até de outras partes do mundo para ver o espetáculo da baleia jubarte. A experiência, que antes era quase restrita a paraísos como Abrolhos (BA), ganha tração em quase toda a costa

Em Ilhabela (SP), já existe fila de espera para o agendamento de passeios, que custam cerca de R$350. Semana passada, a professora Ivone Garijo conseguiu avistar 28 jubartes em uma única tarde, número que se tornou um recorde, mas foi rapidamente batido. No dia seguinte, a nova excursão já encontrou mais de 30 baleias.

— Não existia essa observação até poucos anos atrás, achavam que não existiam tantas jubartes. Mas agora estão se interessando, inclusive a própria população percebeu que pode arrecadar muito com isso.

Moradora de Guararema, a 2h30 de distância de Ilhabela, ela admite que nunca havia se interessado muito pelo assunto. Mas seu filho, que faz trabalho voluntário no Projeto Baleia à Vista, a incentivou a fazer o passeio, que agora será repetido todo ano.

— Foi inesquecível. Quando ela subiu e bateu a cauda foi quando caiu a ficha e entendi o que estava acontecendo. Uma experiência maravilhosa e surreal, um encontro com a natureza — descreve a professora. — Depois que eu postei, cinco amigos pediram informações, o interesse é grande. Muitas pessoas sonham com esse passeio, mas antes tinham que ir até Abrolhos ou Arraial do Cabo.

Quando o Projeto Baleia Jubarte começou, em 1988, estimava-se uma quantidade de mil animais fazendo a migração anual para a costa brasileira durante o período de reprodução das fêmeas, de junho a novembro. Hoje, de acordo com o último censo do instituto, a população já está próxima de 30 mil.

Essas jubartes, que tem cerca de 15 metros de comprimento — equivalente a um ônibus — e 40 toneladas de peso, residem a maior parte do ano na Antártida, onde há mais oferta de alimentação, e sobem até o Brasil para os nascimentos dos filhotes. A gestação de uma baleia dura de 11 a 12 meses, e há duas teses principais para explicar a migração: a temperatura mais aquecida das águas, melhores para os filhotes; e fugir das orcas, que são as predadoras das outras baleias.

No século passado, as jubartes, assim como as outras espécies de grandes baleias, estiveram à beira da extinção, com redução de 90% dos indivíduos, alvos da caça industrial, que acontecia principalmente por pescadores do Japão, Islândia e Noruega. Estima-se que somente na Antártida, 2,1 milhões de baleias foram caçadas no início do século 20. Diante do quadro, foi criada a Comissão Internacional de Baleias, em 1945, que decretou regras e impediu a caça.

Hoje, dos grandes países somente o Japão continua com a caça e em 2014 a baleia jubarte saiu da lista do governo brasileiro de espécies ameaçadas de extinção.

— A população está crescendo e provavelmente entrando num processo de estabilização. Além da proibição à caça, que é o fator principal, os pesquisadores estão em campo, monitorando e fazendo ações de conservação. Você só preserva o que conhece e hoje temos ferramentas para amenizar o máximo possível dos impactos — explica Enrico Marcovaldi, coordenador do Projeto Baleia Jubarte.

Logo o crescimento global se refletiu no Brasil. Há 35 anos, quando o projeto nasceu, a população brasileira de jubartes se concentrava basicamente no sul da Bahia, onde fica o arquipélago de Abrolhos. Hoje, porém, o projeto já tem base em 14 cidades da costa brasileira.

— Do Norte de São Paulo até o Rio Grande do Norte já temos muitos registros. Elas estão ocorrendo em todo litoral nordestino. É possível projetar que em breve toda costa brasileira terá a presença de baleias, elas estão reocupando essas áreas — celebra Marcovaldi. — Até pouco tempo atrás a gente trabalhava em cima da falta de baleias. Agora estamos trabalhando em cima da fartura de baleias. O turismo ainda é uma grande ferramenta de conservação, pois oferece alternativa à caça para geração de renda.

O turismo de observação acontece em cinco estados — São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Norte — principalmente associado aos trabalhos de pesquisa. É assim, por exemplo, nas cidades onde o Projeto Baleia Jubarte tem base, como Ilhabela (SP), Arraial do Cabo (RJ), Vitória (ES), Caravelas (BA) e Praia do Forte (BA). No Rio, onde já existem as excursões de pesquisa, os passeios turísticos devem começar neste ano, com operadores parceiros.

Além das pesquisas, o projeto capacita de 150 a 200 profissionais anualmente no país, na maioria barqueiros e operadores de turismo. No Brasil, a atividade atrai, por ano, cerca de 10 mil turistas, movimentando aproximadamente R$3 milhões na economia, fora os impactos indiretos para comunidades locais.

A atividade de observação de baleias acontece em 100 países, com geração de cerca de 2 bilhões de dólares, e aqui é regulamentada por lei federal e uma portaria do Ibama, de 1996, que define as regras. Entre as principais exigências, estão a aproximação de no máximo 100 metros das baleias, e as proibições de permanência por mais de 30 minutos, de interromper seus cursos, e de nadar junto a elas.

— Trabalhamos há 20 anos com isso e continuamos nos emocionando a cada encontro — afirmou Sergio Cipolotti, biólogo do Instituto Baleia Jubarte, na excursão acompanhada pelo GLOBO no Rio. — É um sonho para as pessoas. No caminho, é possível ver diversas aves e golfinhos, mas a baleia é a cereja do bolo. É como um safári no mar.

*Agência O Globo

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