Em meio ao caos político pós-eleições, o juiz distrital Royce Lamberth, veterano magistrado dos EUA, enfrenta uma onda de ameaças sem precedentes. Antes alvo de cartéis de drogas e até da Al-Qaeda, Lamberth agora enfrenta assédio por sua atuação em casos envolvendo apoiadores de Donald Trump ligados ao ataque ao Capitólio em 2021. Sites de direita o retratam como parte de uma conspiração, e apelos à sua execução ecoam em círculos pró-Trump.

"Não pude acreditar quantas ameaças de morte recebi", revela Lamberth, enfatizando a virulência das ameaças que recebeu. A análise da Reuters revela que esse é apenas um exemplo de uma crescente onda de ameaças e intimidações contra juízes, promotores e funcionários judiciais nos Estados Unidos, alimentada pela polarização política e pela retórica incendiária de Trump.

Desde que Trump lançou sua campanha presidencial em 2015, o número médio de ameaças dirigidas a juízes, promotores federais e edifícios judiciais triplicou, ultrapassando 27.000 ameaças documentadas pelos Marshals Service. Com Trump enfrentando processos judiciais, seus seguidores intensificaram a campanha, resultando em mais de 450 ameaças graves apenas em 2023.

Para juízes como Lamberth, a ameaça à independência judicial é clara. Maureen O'Connor, juíza-chefe aposentada da Suprema Corte de Ohio, afirma que Trump "deu permissão através de suas ações e palavras para que outros se apresentassem e falassem sobre os juízes em termos não apenas de crítica às suas decisões, mas de menosprezo deles e de todo o sistema judiciário."

O próprio Trump, favorito à nomeação presidencial republicana para 2024, permanece desafiador em relação ao sistema judicial. Em um contexto de ameaças crescentes, os juízes enfrentam o desafio de manter a integridade judicial enquanto o ex-presidente critica juízes como inimigos políticos e classifica o sistema como tendencioso.

Apesar do aumento das ameaças, prisões raramente ocorrem, enquanto os juízes expressam preocupações sobre a potencial erosão da legitimidade dos tribunais. Richard Sullivan, juiz do Tribunal de Apelações dos EUA, alerta: "Não podemos ter uma situação em que os juízes tenham medo de que uma decisão, uma decisão impopular, possa levar a represálias."

O futuro da independência judicial nos Estados Unidos permanece em jogo, enquanto o legado da presidência de Trump continua a reverberar nos corredores do poder judicial.